“Jornalista com diploma, para ser feliz”

Raul Christiano

Raul Christiano

Raul Christiano, formado em 1982, é, também, político e escritor. Em 1972, aos 13 anos, já escrevia para “A Tribuninha”. Já trabalhou na Rádio Cacique e Rádio Clube, no jornal A Tribuna e na TV Mar, e foi um dos idealizadores do Grupo Picaré, de artes e literatura, fundado em 1979. Em 1988, participou da fundação do PSDB. Entre 1994 e 1995, presidiu a Delegacia Regional do Sindicato dos Jornalistas na Baixada Santista. Foi Secretário Municipal de Cultura em Santos (2013-2015) e também em Cubatão (2017). Desde 2010, atua como diretor na Educapress Consultoria.

Não tenho dúvida de que vivi os melhores momentos de minha juventude na Faculdade de Comunicação – FACOS da UniSantos. Aliás, se não tivesse estudado e me formado Jornalista, creio que seria uma pessoa incompleta. Desde a minha infância sinalizava com essa aspiração, escrevia artigos no suplemento de ‘A Tribuna’ de Santos, ‘A Tribuninha’, desde 1972, quando tinha 13 anos de idade; no jornal semanário ‘O Progresso’, de Brotas, interior do Estado; e em jornais e revistas mimeografados, voltados à política e à literatura. Selecionei algumas passagens para este depoimento. Como já disse que foi uma época feliz de minha vida, relembrei as passagens bem humoradas, mesmo quando o assunto era sério.

Klein

Antes de entrar na faculdade, quando escrevia esses textos, buscava palavras difíceis no dicionário, além daquelas que lia nos livros (muitos) na biblioteca da Sociedade Humanitária. Certa vez fui aconselhado a escrever difícil para parecer mais inteligente. Só mudei por causa do editor de ‘A Tribuna’, Carlos Henrique Klein, quando submeti a ele um artigo que desejava fosse publicado no jornal. Ele leu, atentamente, e me perguntou: __ Quantos anos você tem? Respondi que tinha 17 e ele disse que eu escrevia como um ‘velho’, que não tinha nada a ver comigo. E me recomendou fazer mesmo a faculdade de Jornalismo. Havia em mim um sentido para essa escolha antiga, fortalecido pelo meu primeiro revisor..

 

Vestibular

Quase ingressei na Unimep – Universidade Metodista de Piracicaba, em 1978, mas preferi esperar o vestibular da FACOS, em 1979, quando fui aprovado e comecei a cursar Jornalismo, ainda no prédio do antigo Colégio Santista, que fica na Rua 7 de Setembro, na Vila Nova, em Santos. Nessa época, trabalhava no departamento de Pesquisa do jornal ‘A Tribuna’, depois de ter iniciado como escriturário no departamento de faturamento da empresa.

 

Conjuntura

Logo nos primeiros dias do curso, a temperatura política estava quente no país. Um clima que se dizia de abertura, a seis anos do fim da ditadura militar, com a luta pela Anistia, que defendíamos ampla, geral e irrestrita. Com o fim do bipartidarismo – MDB e ARENA, e os primeiros passos na articulação da fundação do Partido dos Trabalhadores – PT, a reconstrução da UNE, UEE e Centro dos Estudantes. Motivado, participava de tudo.

 

Movimento

Relembro que uma das minhas primeiras tarefas como militante estudantil universitário (havia presidido o Centro Cívico do Colégio Primo Ferreira, quando secundarista), foi mobilizar a minha classe para ir a Câmara Municipal e pressionar os vereadores a votarem contra a criação de uma Universidade Municipal, pública e paga (o prefeito era Antônio Manoel de Carvalho). Depois fiz parte do Diretório Acadêmico e cheguei a ser o vice-presidente da Associação Atlética Júlio de Mesquita (porque ‘fui atleta’, da equipe de basquete da FACOS nos Jubas – Jogos Universitários da Baixada Santista).

 

Estilo

Minha vida nos corredores e arredores da FACOS teve mudanças radicais de comportamento e estilo. Era um garoto tipo almofadinha, bigodinho, raramente usava gíria, formal demais. Pensava em Academias de Letras. Estava noivo… Logo deixei a barba crescer, a bolsa tiracolo de brim surrado substituiu o caderno fichário, ataquei o marasmo cultural das academias e do movimento de artista que dependia do poder público, publiquei livros em mimeógrafo, criei o Grupo Picaré, pichei muros com poesia e palavras de ordem, usei camisetas com frases de protestos e de campanhas estudantis e sindicais, terminei o noivado, namorei bastante, pedi demissão de ‘A Tribuna’ para morar e trabalhar num jornal mensal em Mongaguá.

 

Trabalhando’ em Mongaguá (1980)

Bom aluno

Não fui um aluno com as melhores notas da classe. Fazia o suficiente para passar de ano e não via a hora de concluir o curso, e de me tornar correspondente estrangeiro. Participava de tudo em classe e fora dela. Mantinha boa relação com todos os professores e funcionários. Estagiei como representante da Caixa Econômica Federal para o Crédito Educativo e fazia frilas de redação e past-up (montagem à mão de páginas de jornal e outras publicações, a partir da diagramação). Sobrevivia ainda da venda de livros mimeografados e impressos em Santos, nas festas públicas e nas portas de bares, teatros e eventos na Capital.

 

Vigília

Recordo que era uma espécie de seguidor do radicalismo do Dojival Vieira, estudante de Cubatão, que já trabalhava no ‘Cidade de Santos’. Mas sobressaía em mim o poeta ao invés do pula-catraca de ônibus. Frequentava as festas do PT em Santos e em São Paulo. Certa vez fui parar numa festa na Escola Macunaíma de Teatro em São Paulo. Defendi algumas vezes a bandeira pela ‘Federalização das Escolas Falidas’ e participei da vigília na FACOS, contra o aumento das mensalidades. Foram dias e noites. Não podia dormir lá, porque trabalhava em Mongaguá, mas cedia livros meus para fazer finanças e comprar comida para os colegas manifestantes.

 

ASSESSORIA

Cruz credo ser assessor de imprensa. Naquela época, alguns colegas radicalizavam. Diziam que jornalista devia trabalhar em jornal e que assessor não era jornalista. Esse foi o meu dilema quando acompanhei a Isa Santos ao escritório do então deputado estadual Rubens Lara, que havia sido indicada pelo professor Dirceu Fernandes Lopes para trabalhar com ele e queria dizer que não aceitava ao convite. Lara me viu na sala de espera e perguntou se eu estava disponível. Pedi uma semana para pensar e quando aceitei, enfrentei a resistência dos militantes do MR-8 que trabalhavam na equipe dele e diziam que primeiro eu era ‘almofadinha’ (versão antiga de coxinha), ‘meio petista’ e depois que eu andava muito ligado no ‘pessoal da reforma’, como eram chamados os militantes do clandestino PCB. Os caras queriam me queimar de todo o jeito. Trabalhei com o Rubens Lara, de novembro de 1981 a 1990, mudando esse papo de que assessoria não era papel de jornalista.

 

FEIO

Meu último ano de Jornalismo aconteceu em 1982, no prédio da Rua Euclides da Cunha, que foi derrubado com cara de novo. Era novo. Foi construído quando a Sociedade Visconde de São Leopoldo estava quase conseguindo virar Universidade, a UniSantos. Laboratórios. Biblioteca. Gráfica. E uma escadaria na frente, que nos prendia ao ar livre. Nessa época o professor Walter Sampaio Smolka fez um teste de TV comigo e decretou: __ Sua voz é muito boa para o rádio, mas a sua imagem na TV é muito ruim. Foi o suficiente para eu esquecer o sonho de ser correspondente da Globo no estrangeiro.

 

ROLDÃO

Certa vez o professor Roldão Mendes Rosa, que mantinha uma coluna literária em ‘A Tribuna’, fez uma crítica à prioridade do Grupo Picaré em publicar e divulgar livros de seus componentes, esquecendo por um bom tempo das ideias que originaram o grupo. Sem pensar muito, respondi a Roldão numa carta longa intitulada ‘Sinais de Crítica à Poesia da Ilha’ e tomei um artigo-lição ‘Em torno de uma carapuça’, que ainda hoje dou razão a ele. Chegaram a pensar que iríamos brigar fisicamente. Éramos muito doidos. Meu Deus!

 

ENTREVISTA

Foram muitas matérias no jornal laboratório ‘Entrevista’, mas a que me mobilizou mais foi sobre como viver a madrugada no Gonzaga, que intitulamos ‘Triste Gonzaga na Madrugada’. Qual a equipe?  José Paulo Matos (Paulinho Blá Blá Blá), Rafael Marques Ferreira e Ricardo Vaz Gonzalez.

Deixe um comentário